12 de julho de 2012

Meus Contos:



Olá amigos, pela primeira vez, mostro a vocês um Conto por mim escrito há anos atrás; uma crônica social que está mais para Prosa Novelesca e, portanto, um tanto longo; por ser longo e não conter capítulos, para tornar a leitura mais atraente, eu resolvi dividi-lo em três partes. Vamos à primeira parte deste Conto: 


  
 Estamos nos meados da década dos anos sessenta, época conturbada por movimentos e agitações políticas de diversas ordens e origens; sob-regime político ferrenho, autoritário e extremamente repressivo de uma ditadura militar, que além de determinar censura dos meios de comunicação, promovia, como represália, inúmeras prisões dos prováveis agitadores desagradados e contra o regime. E foi nessa época confusa politicamente falando, época que distribuía insegurança e temor, que essa história se passou na vida de Antonio Carlos, – um jovem dedicado e empenhado em ser alguém na vida...
Com seus vinte e um pra vinte e dois, um rapaz sério, filho mais velho de gente humilde, com o pai aposentado por problemas de saúde, um irmão quatro anos mais novo e a mãe dedicada que lavava roupa pra fora para ajudar a família. Alguém esforçando e muito trabalhador, que desde muito cedo trabalhava durante o dia e estudava à noite, e que não pensava em outra coisa a não ser ajudar aos seus e a si próprio é óbvio.
Apesar de ser um rapaz pacífico, que não se metia e nem se envolvia com movimentos de esquerda, sem, entretanto, ser um alienado, tinha muita opinião e buscava sempre, de alguma forma, ajudar no que pudesse os trabalhadores da empresa em que trabalhava e de forma indireta ele, evidente. E essas ajudas eram determinadas e definidas basicamente através dos conhecimentos que gradativamente adquiria no meio universitário, já que era um quartanista do curso de administração e economia, – ele era, em outras palavras, um jovem esclarecido.
Com isso, com seus conhecimentos, tinha discernimento pra julgar o que era justo ou não, assim, uma das formas que encontrou para se manter a par das coisas, foi participar do sindicato de metalúrgicos, – entidade de classe que representava os interesses dos trabalhadores, não só da sua empresa, mas de muitas outras mais.
Como ele era um moço sério e interessado, acabou sendo, pelo sindicato, eleito e nomeado como representante na empresa em que trabalhava, – um membro do sindicato. Cargo que ocupou pelo período de três anos, pois, conforme convenção trabalhista, o período não podia ser estendido por mais tempo. Aliás, diga-se de passagem, durante o período que ele foi membro, era benquisto e respeitado, não só pelos trabalhadores comuns, mas também por sua chefia e pelos dirigentes da empresa, já que não era de fazer proposições sem fundamento ou lógica, com isso, ele era muito conhecido.
Na época de membro, as coisas corriam e ele, raramente – quase nunca, pedia interferência do sindicato, pois seu interesse era somente se preocupar, quando necessário, com o que pudesse resolver ali mesmo onde trabalhava sem envolvimento de mais ninguém; pra isso, era imperativo, depois de acertado qualquer que fosse o benefício conseguido, regularizá-lo perante a lei trabalhista, aí sim, o sindicato se envolvia na formalização dos acordos junto à direção da empresa. Ainda nesse período, como tinha bastante conhecimento administrativo, acabou ajudando o sindicato no tocante à organização de arquivos, papelada dos sócios e coisas assim, depois disso, depois que deixou de ser membro, seu compromisso com o sindicato era o de ser sócio, nada mais do que isso!
A empresa na qual trabalhava era considerada uma empresa grande, com seus dois mil funcionários em média, distribuídos nos diversos setores da fábrica. Antonio Carlos, a despeito do seu nível, – um universitário faltando pouco para se formar, tinha cargo de encarregado de um dos setores da fábrica e trabalhava no meio dos operários.
Apesar das dificuldades financeiras que enfrentava para se sustentar num curso caro de escola particular, além das despesas pessoais e da imperativa necessidade de ajuda à família, tudo corria bem, e ele não reclamava. E assim foi, até que um dia algo inesperado e fatídico aconteceu.
Numa dada manhã, fria e chuvosa, por ter deitado muito tarde da noite ao retornar da faculdade, cansado que só ele, acabou levantando depois do horário habitual; com isso, preocupadíssimo em não em chegar atrasado à empresa, saiu correndo de casa, sem ao menos tomar seu café da manhã. 
Já na empresa, horas depois, não era seu costume, todavia com fome, acabou fazendo o que muita gente fazia: ir à cantina que existia dentro da empresa tomar café e comer alguma coisa.
Ao sair do seu setor e caminhar pelo pátio da empresa em direção à cantina, ele viu cinco sujeitos isolados como que reunidos a certa distância dele no meio do pátio. Não os conhecia propriamente, porém, atendendo normas de segurança interna todos os funcionários eram obrigados a usar capacetes, e pelos capacetes que usavam, ele facilmente os identificou como membros do sindicato, o que lhe causou muita estranheza, além do que, pertenciam a setores distintos que ficavam distantes um do outro. Não parou e muito menos foi até eles, todavia, caminhava imaginando e exprimindo estranheza.
“Ué?... O que esses caras estão fazendo aí?...”  
Pensou e cheio de dúvida continuou até chegar à cantina. Lá, comendo e tomando seu café, os pensamentos foram desviados...
Momento depois, depois de se saciar, retornou e muito antes de chegar ao seu setor, coincidentemente, cruzou com um ex-membro do sindicato com quem tinha relativa amizade, e não teve dúvida, já parou inquirindo o rapaz:
— Olá Manoel, bom dia! Eu vi hoje, logo cedo, cinco membros do sindicato no meio do pátio conversando. Você os viu e sabe do que tratavam?
— Oi Antonio! Eu não vi não!... Quem era?...
— Não sei dizer, Manoel. Só sei que são membros do sindicato. Será que está acontecendo alguma coisa e não nos disseram?
— Não!... Acho que não! Se houvesse algo importante nós, com certeza, saberíamos. Vai ver foi coincidência.
— É!... Pode ser! De qualquer forma, obrigado e bom trabalho pra você. Tchau!
— Tchau, Antonio Carlos. O mesmo pra você!
Despediram-se e ele retornou ao seu setor, todavia, ainda levando dúvidas.
Não passaram nem dez minutos, suas dúvidas foram esclarecidas por Manoel, que entrou afobado e ofegante no seu setor lhe procurando e falando à boca pequena – sussurrando no ouvido:
— Antônio Carlos, estão armando uma greve...
Ele se espantou exclamando sem se importar se seria ouvido ou não:
— Greve?... Por quê?...
— Não sei! – respondeu Manoel. Ninguém me falou nada. Mas é o rumor que está havendo. Dizem que vão parar a fábrica.
— Minha nossa!... – disse ele. Por qual razão?
— Não faço ideia! Só sei que o movimento é forte e está muito organizado, pois, pelo o que ouvi, já começaram a parar alguns setores da fábrica.
Ele ficou, por momentos, olhando calado e abismado pra Manoel, dando impressão de meditar, dali a pouco, murmurou:
— Engraçado... Tem algo estranho nisso... – falou e mudando o tom completou. Por que será que não ficamos sabendo antes? O que eles estão reivindicando?
— Também não faço ideia. – disse Manoel. Bom, deixa eu voltar pro meu setor pra ver no que vai dar, qualquer coisa eu lhe aviso. Tchau!
— Tchau, Manoel, obrigado por avisar! 
Fim da primeira parte, continua...  

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